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Regina Guerreiro: “No mundo todo há uma banalização do bom gosto” #ArquivoManequim

Primeira jornalista de moda do País – e também da história de MANEQUIM –, Regina Guerreiro critica o visual do “look do dia” e conta como se reinventou na era digital

Regina Guerreiro é uma lenda. Começou a carreira nos anos 1960, quando a moda nacional ainda nem existia, e teve papel importante na história de MANEQUIM – entre 1964 e 1969, ela foi de redatora a redatora-chefe; produziu, editou e dirigiu ensaios memoráveis da nossa revista. Hoje, aos 75 anos, mostra que nunca é tarde para se reinventar. Nesta entrevista, em seu apartamento em São Paulo, a mais irreverente e experiente jornalista de moda do País revela seu olhar crítico sobre a moda atual.

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Você foi pioneira na área e continua superantenada. Como acompanha a moda hoje?
Eu navego bastante na internet e leio muito, sobre tudo. Já faz algumas temporadas que não acompanho as semanas de moda daqui. Quando vou, vejo no máximo três desfiles. Nunca há nada novo…

A moda é o retrato de cada época. O que expressamos atualmente?

A moda muda a cada 25 anos; mudou com Dior, com Chanel… em 1965, teve explosão do grafismo, da op-art, por exemplo. O que temos temos agora é um patchwork de várias décadas. Não espero mais nada de novo em criação de moda. Só se inventarem uma nova matéria-prima… mas nem consigo imaginar qual seria!

Há uma falta de identidade?
No mundo todo há uma banalização do bom gosto, do corpo e do que é bonito. Muitos anos atrás, escrevi que a moda dos anos 2000 seria uma mulher pelada cheia de tatuagens: acertei! (risos) O que temos hoje é uma reprodução em massa da maneira de se vestir. As pessoas não têm mais personalidade visual.

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Hoje vivemos uma retomada dos trabalhos manuais, feita por jovens, e cuja estética está cada vez mais presente nas passarelas.  Esse movimento não seria um fôlego de originalidade?
Se esse movimento vingar, sim! Antigamente as meninas aprendiam a bordar e costurar. Isso é importante quando o assunto é trabalhar com moda, não importa o cargo. Minha mãe dizia que quem não sabe fazer não sabe mandar. O mundo da moda é conhecido pelo esnobismo e pela alta competitividade. Foi assim desde o começo? É uma bobagem ter esse ‘carão’ (expressão esnobe) e acho que existe uma imagem
exagerada desse universso. Mas o mundo fashion é lamentável, pois existe, sim, muita inveja e abuso de poder. Estamos vivendo um momento novo com a democratização da moda e o surgimento de novas linguagens. A internet trouxe muita coisa nova e ajudou a desmistificar esse universo.

A internet trouxe, inclusive, as blogueiras, que ocupam as primeiras filas dos desfiles e influenciam milhares de pessoas…
Não tenho nada contra blogs e até já tive um. Mas acho um absurdo algumas blogueiras nada originais estarem no topo da mídia como referência de moda. Elas são um retrato da “não moda”, assim como o “look do dia” é uma antilição de bom gosto. Não basta ter dinheiro, usar
as tendências da cabeça aos pés e sair por aí influenciando todo mundo a se vestir igual. Moda não é isso.

Falta conteúdo?
Sim, e não só entre as blogueiras. Para trabalhar com moda, não basta gostar e consumir moda. É preciso ter referências, e eu não estou falando de recortar revistas. É necessário ler muito sobre artes plásticas, cinema, cultura geral e comportamento.

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Quais os momentos mais marcantes da sua carreira?
Foram muitos. Mas o começo da moda brasileira foi intenso. Assim como conhecer nomes que revolucionaram a moda. Em uma das passagens do estilista italiano Pierre Cardin por aqui, fui recebê-lo no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A imagem dele e de suas modelos descendo do avião foi inesquecível. Eu era só uma menina de tailleur, mas era imbatível!

Você sempre foi irreverente?
Sempre! Mas, com a idade, aprendi a ser mais tolerante do que era antes. Eu era imbatível, uma profissional completa, e muitas vezes não respeitava o ritmo diferente das pessoas. Uma vez me perguntaram se era difícil ser Regina Guerreiro. Respondi: dificílimo! (risos)

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