Os looks em tons pastel que rechearam o desfile da Prada, em
Milão, anunciavam uma coleção feminina e delicada, que beirava uma atmosfera
debutante. Mas o abotoamento duplo dos casacos – que remete na hora à estética
militar – as estampas trompe l’oeil, os casacos de vinil e os vestidos com
modelagens exageradas contrariaram essa primeira impressão. “Doce, mas
violento. Eu queria impacto. Como é possível ser forte usando tons pastel?”,
provocou Miuccia Prada. Expert em brincar com o tênue limiar entre real e ilusão,
a estilista italiana trouxe peças que enganaram os olhos da plateia: algumas
aparentavam ser de neoprene, mas eram confeccionadas com jérsei dublado, um
tecido que conquistou Miuccia nesta temporada.
A trilha sonora não poderia ser
mais adequada: a música do filme Fantasia, do cineasta americano Walt Disney,
lembrava que a beleza e a perfeição podem ser apenas um sonho, e que o mundo
das aparências é dúbio. E no universo de Miuccia, nada é o que parece ser. Ela
tem o dom de transformar o normal em surpreendente e subverter tudo o que
parece familiar de forma encantadora.
A cartela de cores privilegiou o rosa
bebê, o azul-claro e o camelo, mas abriu espaço para o vermelho, o verde, o
burgundy, o cinza e o preto. Entre os tecidos, seda, cetim, algodão, lã, couro
e um tweed com pinceladas de cor surgiram adornados por flores, aplicações de
pedraria e broches. Os elementos masculinos, como as gravatas, não ficaram de
fora, fazendo um contraponto com as roupas adocicadas. Nos pés, sapatos mary
jane repaginados garantiram uma feminilidade moderninha, e as botas com solado
tratorado reforçaram o ar jovial. Bolsas estruturadas finalizaram os looks, em
uma parceria afinada com as calças encurtadas, conjuntinhos e vestidos de corte
império. Uma doce e leve proposta, que deve conquistar as fiéis admiradoras da
marca.
Publicado na edição 1130 da revista CARAS