Um casaco de juta, um vestido-avental e pedaços de calças nos punhos. A coleção Artisanal da marca belga se encarregou de trazer ousadia à Semana de Alta-Costura de Paris. E, em se tratando de John Galliano, não poderia ser diferente. O estilista apostou nas desconstrução da silhueta tradicional e propôs modelagens assimétricas, com peças híbridas. Ráfia de Madagascar, tapeçaria francesa, tweeds ingleses, tricôs irlandeses e seda chinesa refletiram o mix de referências que influenciaram Galliano. Veludo, lã de alpaca, tecido telado e neoprene trouxeram texturas incríveis à passarela. A mulher imaginada pela maison é extremamente contemporânea e iconoclasta, mas tem um quê de gueixa. Prova disso foram os looks que lembravam quimonos e o vestido verde de lamê com dobraduras, que garantiu dose extra de dramaticidade.
Extravagâncias que não deixam de surpreender, já que a Margiela é conhecida por seu DNA minimalista – ainda que tenha aberto espaço para roupas mais conceituais, mesmo antes da chegada de Galliano. Até as peças mais sóbrias traziam detalhes provocativos – vide o conjunto de alfaiataria grafite com pompons, que abriu o desfile, e o longo casaco rosa pálido com um detalhe azul klein nas costas. Aliás, esse tom foi marcante na coleção, que teve, ainda, cinza, dourado, verde e branco. A ousadia também esteve nos sapatos – com saltos esculturais -, nos acessórios feitos de raízes e sabão, e no make tribal criado pela maquiadora britânica Pat McGrath.
Considerado um gênio da alta-costura, Galliano ainda tenta superar o episódio que o tirou da Dior em 2011. Na época, o estilista foi processado por fazer comentários antissemitas em um café parisiense. Apoiado por amigos, como a top inglesa Kate Moss, retomou a carreira no início deste ano. Os aficionados por moda torcem para que, desta vez, as polêmicas se resumam às passarelas.
Publicado na revista CARAS edição 1136