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Dudu Bertholini fala sobre carreira, negócios e liberdade criativa

Em entrevista à Manequim, o expert deu uma verdadeira aula sobre moda. Confira!

O talento de Dudu Bertholini é tão amplo que ultrapassa os limites que as nomenclaturas impõem. “Sou um comunicador de moda”, explica. Ele começou a carreira como stylist e trabalhou para marcas como Triton e Colcci. Em 2003, em parceria com a empresária Rita Comparato, fundou a Neon. A partir de 2013, quando fechou o ateliê da marca, passou fazer licenciamento para outras empresas, como Morena Rosa, Riachuelo e Lets. No ano passado, encarou o desafio de compor o figurino da novela Verdades Secretas e, recentemente, do programa Amor & Sexo. Na entrevista a seguir, feita a bordo do Fashion Cruise, onde participou de um talk show, Dudu conta o segredo de seu sucesso na moda: identidade.
Como você ingressou no mundo da moda?
Sempre me interessei pela forma como as pessoas se expressam através da roupa, mas, quando eu era adolescente, pensei em fazer direito internacional. No começo da década de 1990, a moda estava em efervescência no Brasil. Então percebi que o mundo não precisava de mim como um diplomata. Entrei na faculdade Santa Marcelina em 1997 e, logo depois, já fui trabalhar no Phytoervas Fashion e não parei mais. Fui stylist, depois tive a Neon… 

Como aconteceu sua evolução dentro da moda? Você é stylist, estilista, figurinista… 
Sempre quis fazer um trabalho integrado. Todo meio que me permita transmitir uma mensagem de forma verdadeira e íntegra me interessa. Quanto mais combino diferentes tipos de campos de atuação, mais realizado me sinto. Foi uma evolução natural. Sou um comunicador de moda, mas não tenho vontade de me definir. Acredito que temos que ampliar as nossas possibilidades. O trabalho de figurinista é novidade na sua carreira. 
O que aprendeu de novo? 
Tive a oportunidade de trabalhar na produção da novela Verdades Secretas e no programa Amor & Sexo, ambos da TV Globo. Esses dois produtos têm uma liberdade estética, uma ‘pegada’ de imagem e de moda muito legal. É diferente de fazer um editorial ou desfile, onde a roupa fala por si só. O figurino tem um compromisso maior com a narrativa. O look tem que enriquecer a mensagem que está sendo transmitida – e não se sobressair a ela. 

Qual a diferença entre criar para a sua marca e fazer licenciamento? 
Ao fazer um licenciamento, aprendo com a empresa para a qual estou criando e ela comigo. É preciso entender o target dessa marca, saber para quem estamos falando e vendendo. Na Neon, por outro lado, tínhamos uma liberdade autoral muito grande, mesmo tendo que cumprir premissas comerciais. Também há liberdade em trabalhar para terceiros de forma independente. Procuro olhar sempre pelo melhor viés de cada oportunidade. 

Em um licenciamento, como você traduz o DNA da empresa nas suas criações? 
É preciso ter respeito e carinho pela marca. Se você tentar sobrepor a sua linguagem, o resultado não vai ser bom. Sempre que vou atender uma empresa, investigo para entender com quem estou trabalhando. Sobre o meu repertório eu já tenho domínio. E é aí que vem a mágica da adaptação. Quem tem uma visão autoral do trabalho pode ter dificuldade. Eu, ao contrário, acho que a beleza está nisso. Consigo fazer um produto superintegrado ao que a empresa precisa e mesmo assim, com a minha personalidade. 
Quais são as suas inspirações? 
É preciso estar atento a tudo. É como ter uma parabólica para comportamento, economia, história, música, política… A moda é um espelho do mundo à nossa volta. É possível absorver inspirações da natureza, de pessoas que estão na rua, de uma música ou ritmo que te estimule. É lindo! 
Qual é a importância da identidade na moda brasileira? 
As marcas internacionais têm muito a nos ensinar sobre isso. A Chanel não quer ser a Prada. A Prada não quer ser a Versace. Cada uma que ser a melhor versão do que já é. Isso é identidade, que, para mim, é o que protege as marcas hoje em dia. Por exemplo, camiseta branca todo mundo faz. E por que você quer a camiseta de uma marca, e não da outra? Existe um marketing por trás disso. As marcas nacionais precisam parar de comparar e entender o que faz a nossa identidade ser única. O alto valor do dólar e do euro oferece oportunidades incríveis para as marcas nacionais se destacarem. Pare de olhar para o que você não tem, observe o que tem e perceba que é desse limão que você vai fazer uma limonada. 

Que conselhos você daria para um estilista em início de carreira? 
Pode parecer clichê, mas acredite na sua personalidade e em quem você é. Jovens estilistas costumam reclamar da falta de recursos, mas é nesse momento que as oportunidades surgem. É um canvas em branco em que você tem a chance de apostar no que quiser. Quando você é jovem, tem liberdade para explodir, criar. Não é o momento de se lamentar. As boas ideias não são as caras. 
Quem são os seus estilistas preferidos? 
Meu grande ídolo é o francês Yves Saint Laurent (1936-2008). Também gosto muito dos japoneses Kenzo (Takada) e Issey Miyake. Chanel, para mim, é uma grande escola de estilo do século XX. No Brasil, Alexandre Herchcovitch, Carô Gold e Pitty Taliani, da Amapô, Lino Villaventura… 
Que mensagem quer transmitir? 
Sou democrático! Quero que a minha mensagem chegue aos lugares mais difíceis. A real comunicação não está pautada em uma diferenciação de público, e sim em um aspecto humano e emocional. Tento sempre falar com clareza. Não quero usar códigos que só eu entendo ou achar que sou melhor porque só eu entendo. O carão é só na foto. Muito mais do que pensar em como vou me comunicar com a classe C, por exemplo, penso que a minha mensagem tem que ser positiva. Quero falar de gênero, aceitação, inclusão. Disso todo mundo entende, independentemente de classe ou religião.

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