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Martha Medeiros: sonho rendado

Consagrada no Brasil e no exterior, a estilista quer transformar a renda nordestina em patrimônio mundial

O momento é especial para a estilista alagoana Martha Medeiros. Em 2016, sua marca anunciou grandes notícias: novas lojas em Goiânia e em Los Angeles, nos Estados Unidos, e a chegada do diretor criativo Eduardo Pombal, que vai ampliar as coleções e usar a renda produzida no sertão nordestino em roupas casuais. Com isso, Martha está mais próxima de realizar o sonho de transformar a renda brasileira em patrimônio histórico mundial.

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Como nasceu a sua paixão pela moda? 
Aos 8 anos eu fazia roupas para as minhas bonecas, incentivada pela minha avó. Ela dizia que a peça tinha que ser bem-feita, ter bolso faca e bainha italiana. Comecei a vender, mas meu pai não achava que isso era profissão. Fiz faculdade de direito e fui trabalhar no Banco do Brasil. 
Quando decidiu mudar de vida? 
O que eu mais fazia no banco era vender roupa. A princípio, eu só customizava. Minha primeira loja foi na galeria 377, em Maceió. Depois criei a marca Martha Medeiros e abri loja própria. Foi quando a cerimonialista Vera Simão me convidou para participar do evento Casar, em São Paulo, onde vendi 20 vestidos.
Como era a sua produção nessa época? 
Trabalhávamos uma funcionária e eu. Hoje, só em São Paulo, são 105 colaboradores. Temos uma equipe enorme em Maceió e agora em Goiânia, no Flamboyant Shopping. Em outubro, abriremos loja em Los Angeles, nos EUA – a ideia surgiu quando conheci a atriz Sofia Vergara, que me seguia no Instagram. 
Como é a sua produção hoje? 
Fazemos roupa sob medida e lançamos quatro coleções por ano. A novidade é que o estilista Eduardo Pombal – que trabalhou 19 anos para a marca Tufi Duek –, agora assume a nossa direção criativa. O objetivo é criar roupas mais casuais e mostrar que a renda pode ser aplicada de diversas formas. 
Como a sua renda é produzida? 
Toda a nossa renda é feita por cerca de 450 rendeiras, de cinco estados do nordeste. Lá mantemos programas de capacitação e assistência. Você diz que quer mostrar ao mundo o verdadeiro luxo brasileiro… A renda feita à mão conta uma história única e vem carregada de boas energias. Uma peça nunca é igual à outra. É por isso que me empenho em resgatar rendas que foram esquecidas. Participei de uma exposição na França, no museu de Calais, onde tive acesso a rendas de 500 anos. Em um leilão, consegui um pedaço de renda que destrinchei para descobrir como se fazia. Quero resgatar pontos que deixaram de ser confeccionados. 
Como você enxerga a valorização da moda artesanal em uma sociedade consumista? 
Nunca se consumiu tanto fast fashion, mas é um consumo do vazio. Acredito que as pessoas estão mudando seu estilo de vida, querendo ter menos e ser mais. Nós somos slow fashion. A roupa Martha Medeiros ganha mais valor no guardaroupa conforme o tempo passa. 
Você tem uma relação de amor com MANEQUIM. Quando isso começou? 
Minha professora do curso de moda no Senac São Paulo, Penha Costa Maia, falava muito de MANEQUIM e eu sonhava: “Como vou fazer para ter uma roupa publicada nela?”. Há uns 25 anos, criei coragem, fiz várias peças e uma carta falando do meu sonho. Deu certo. A roupa foi capa! Fiquei radiante porque MANEQUIM é a primeira revista de moda do Brasil. Esperava a edição do mês chegar à banca como quem espera um namorado.