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Flavia Aranha abre seu ateliê e mostra sua técnica de tingimento sustentável

Pioneira em fazer moda com tingimento sustentável no Brasil, ela revela um pouco de sua encantadora alquimia com insumos naturais

Em uma casinha charmosa localizada na Vila Madalena, em São Paulo, a estilista Flavia Aranha coordena a produção quase 100% manual de sua marca homônima, cujo DNA é composto de formas minimalistas e descomplicadas, feitio manual e cores suaves, provenientes de um interessante processo de tingimento sustentável. Flavia, de 32 anos, é uma entusiasta das técnicas artesanais e do movimento slow fashion, que prega uma forma de consumo mais consciente e menos acelerada. “Nunca fui consumista, ao contrário. Eu me satisfaço em fazer uma roupa que representa quem tem esse estilo de vida”, afirma. Apesar de ter estudado moda em Paris e se formado estilista por uma universidade da capital paulista, suas inspirações vêm das raízes interioranas. “Quando eu era criança, passava férias no Nordeste e ficava encantada com as rendas. Na casa dos parentes do interior paulista, me apaixonei pelas toalhas bordadas. E aprendi a costurar aos 13 anos”, lembra ela, nascida e criada em Campinas. Apesar de importar alguns elementos, as matérias-primas brasileiras são prioridade. O algodão orgânico, por exemplo, é cultivado, tecido e fiado à mão por comunidades de Minas Gerais, do Nordeste e de Goiás. “Gosto de saber a história por trás de cada item”, orgulha-se. Na arara do ateliê, há seis anos no mercado, nada fica velho. “Modelagens atemporais e confortáveis e materiais de qualidade não dependem da estação. Elas tornam-se essenciais e bonitas em qualquer tempo”, diz.

Cores da natureza
Depois de cinco anos atuando em uma bem-sucedida marca de roupas da indústria convencional, Flavia percebeu que estava colaborando para um processo de trabalho distante de seus valores. Pediu demissão. “Passei pela Índia, Canadá e Uruguai estudando com os maiores especialistas em adaptar técnicas ancestrais de tingimento natural a formas modernas e sustentáveis”, conta ela, referindo-se a um dos destaques de seu trabalho. “Gosto de usar ingredientes simples, como chás, cascas de árvores e flores”, diz. Nas mais recentes coleções, a acácia negra deu vida a um rosê chique. Já o azul vem do índigo, um pigmento extraído da aneleira. Flavia nos recebeu em seu ateliê e mostrou, passo a passo, a encantadora alquimia que faz com que cascas de cebola e repolho – ambos na versão roxa – se transformem em um verde elegante. E contou uma novidade: a partir deste mês, abre as portas da casa para compartilhar seu conhecimento em oficinas e workshops.
Sopa de cores
Flavia ensina a tingir uma camisa de algodão de 100 gramas. “A quantidade dos ingredientes varia de acordo com o peso da peça. Por isso é importante pesá-la”, explica. Os protagonistas, a cebola e o repolho, ambos na versão roxa, rendem um verde dos mais interessantes. Os outros ingredientes são encontrados facilmente em farmácias. 

Ingredientes
• 100% do peso da camisa de casca de cebola roxa 
• 50% de repolho roxo 
• 8% de tanino (extrato de acácia negra ou chá-preto em pó) 
• 8% de alúmen (pedra hume em pó) 
• Detergente neutro 
• Água
Preparação
1. Ferva a peça com 5 ml de detergente neutro por 40 minutos e depois enxágue. 
2. Ferva mais uma panela com água, adicionando o tanino. Mexa e coloque a camisa para ferver por mais 40 minutos. 3. Retire a peça e reserve. Adicione o alúmen e mexa bem. Só depois coloque novamente a peça e deixe ferver por 40 minutos. “O alúmen e o tanino atuam como fixadores e são facilmente encontrados em casas de produtos naturais e farmácias”, explica Flavia.
Extrato
1. Ferva a casca de cebola e o repolho por uma hora em uma panela grande com cerca de 5 litros de água. Coe as folhas e descarte. Ferva a camiseta por mais 40 minutos no líquido. Durante esse tempo, a peça vai ganhando o tom verde que a mistura proporciona. 
2. No dia a dia, lave a peça à mão com água e deixe secar sempre à sombra. “Nunca use produtos químicos”, alerta a estilista.

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