Cosméticos naturais, veganos e orgânicos são todos iguais?

Há aproximadamente cinco anos, a CEO de uma conceituada linha de maquiagem vegana e orgânica me procurou para um grande desafio: desenvolver um protetor solar vegano, livre de filtros químicos, nano particulado e me pediu ainda que utilizasse apenas insumos orgânicos no desenvolvimento desta formulação. Desafio aceito, e que desafio!

Esses três “adjetivos” de cosméticos – naturais, veganos e orgânicos – não são sinônimos como muitos imaginam. As pessoas relacionam essas classes de produtos a um consumidor mais cuidadoso, antenado com a sua saúde e meio ambiente. Mas tampouco isso é verdade. Vamos às definições e diferenças:

Cosméticos veganos

Cosméticos veganos são aqueles que não usam nenhum insumo de origem ou que tenham sido testados em animais na sua produção. Neles, banem-se mesmo produtos que não necessariamente sacrificam animais, como a extração do mel, leite ou cera de abelha.

No Brasil, para um produto ser considerado vegano, é necessário ter um selo concedido pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Outro selo muito conhecido por veganos é o ‘Cruelty Free‘, cujo símbolo é um coelho e o seu significado é “livre de crueldade”.

A grande confusão aqui ocorre porque muitas pessoas acreditam que um cosmético vegano é natural, e isso não é verdade. Os cosméticos veganos, como expliquei, não contém produtos de origem animal, mas é liberado o uso de produtos químicos, não naturais, conservantes, corantes, insumos que não sejam necessariamente “ecologicamente corretos” e conter potenciais alergênicos em suas formulações (permitidos na legislação, claro, mas sensibilizante para peles delicadas). Portanto, se o produto for apenas vegano, a ordem aqui será proteção tão somente aos animais.

Cosméticos naturais

Os cosméticos naturais possuem essa classificação de acordo com a fonte da obtenção dos insumos que compõem a sua formulação. Quando pensamos em um cosmético natural, logo nos vem a mente plantas; mas não somente elas, como também minerais como a hidroxiapatita de cálcio extraída de conchas e utilizada para produção de fotoprotetores ou as micas naturais derivadas de silício, ferro e manganês utilizadas em maquiagens, são exemplos das infinidades de produtos que podem compor um cosmético natural. Aqui é permitido a utilização de mel, cera de abelha, lanolina e outros insumos de origem animal, sem restrições.

Cosméticos orgânicos

Já os cosméticos orgânicos são sempre considerados naturais. A diferença entre os naturais e aqueles que são naturais e orgânicos é a preocupação com a sustentabilidade de toda cadeia na produção dos insumos. Eles não podem conter hormônios, antibióticos, agrotóxicos e produtos geneticamente modificados. Os extratos de plantas utilizados em cosméticos orgânicos devem prover de agricultura orgânica ou então de colheita silvestre, e apesar de não existir regulamentação específica no Brasil, algumas empresas certificadoras conferem selos como a Ecocert e Cosmos. Assim, garantindo tanto a origem quanto a qualidade, sustentabilidade e rastreio dos ingredientes utilizados por empresas por eles creditadas.

Para que um cosmético seja certificado pelo COSMOS, de 95% a 100% dos agro-ingredientes na formulação precisam ter origem orgânica e ao menos 20% dos insumos totais da composição necessitam ser comprovadamente orgânicos. Além disso, as embalagens precisam ser de material que possa ser reciclado, e os produtos não podem conter fragrâncias e corantes sintéticos. Desde que não gerem dor e sofrimento para a extração, como mel e leite, permitem-se ingredientes de origem animal.

Cosméticos naturais, veganos e orgânicos são todos iguais?

Portanto, nem todo cosmético natural é sustentável, nem todo produto vegano é saudável e nem tudo que você vê como orgânico pelas prateleiras é isento de insumos de origem animal. E nenhum deles é necessariamente hipoalergênico.

Entender a diferença entre estes conceitos é importante para que você faça uma escolha consciente dos produtos que queira incluir ou excluir da sua rotina de cuidados com a pele e cabelos. Como sempre conhecimento é tudo né, pessoal? Contem comigo 😉

 

**

Karina Soeiro

Farmacêutica, Biomédica, Mestre em Ciências Farmacêuticas pela USP, professora universitária e palestrante internacional em conferências e cursos médicos e farmacêuticos. Consultora em pesquisa e desenvolvimento de dermocosméticos para farmácias de manipulação e marcas Brasileiras, Norte Americanas e Alemã. CEO da farmácia de manipulação Apotheka e fundadora da Cosmeteria Gourmet, marca de cosmecêuticos inspirada na confeitaria. Karina é também criadora do primeiro clube de inovação para farmacêuticos, o Innovation Club.

Siga a Manequim no app Helo e receba todas as notícias do site de forma rápida e fácil de ler!