O ator João Côrtes desafia estereótipos de gênero e conta em entrevista exclusiva sobre a ressignificação da sua identidade fashion ao longo da sua vida
Em breve em Rio Connection e Encantado’s, séries originais da Globo, a primeira em parceria com a Sony, João Côrtes é reconhecido por seu talento e por sua personalidade — não apenas na hora de se posicionar, mas também de se vestir.
O artista contou com exclusividade para a Manequim como sua relação com a moda evoluiu ao longo dos anos, como algo que antes era visto como detalhe se transformou em ferramenta de construção identitária, se tornando até mesmo um símbolo de resistência, e muito mais!
No conceito de moda andrógina, gênero-fluída ou até mesmo sem gênero, João posou para as lentes de Ângelo Pontes, contou com styling de Roberta Campos e maquiagem de Ana Gil para expressar, nas palavras do próprio, a representação de um “um homem livre, expressivo, à vontade na própria pele e desafiador dos estereótipos de gênero”.
Para ele, não precisar se limitar à caixa que a sociedade tenta te colocar é um ato político: “Considero que esse processo de “desbinarização” da moda nunca foi tão atual, tão político e tão urgente. Sinto que, cada vez mais, o antigo modus vivente do ser humano, os antigos padrões estabelecidos por essa sociedade patriarcal e capitalista simplesmente não cabem mais. As pessoas estão despertando em suas consciências para entender que somos muito mais do que a caixa apertada em que nos colocam”, conta o ator.
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Versatilidade tem sido uma palavra-chave na carreira de João nos últimos anos — prova disso é que em seu penúltimo trabalho gravado, “Rio Connection”, uma série eletrizante com muita Ação e Drama, o artista interpreta um diplomata brasileiro, excêntrico e ambicioso, que se envolve com a máfia italiana.
Já em seu último trabalho, o ator embarcou em uma proposta totalmente diferente, uma vez que “Encantado’s” é uma trama leve e divertida, em que vive um locutor de mercado e coreógrafo que tem o sonho de se tornar um artista da Broadway. Segundo João, seu último trabalho o possibilitou muito mais que evoluir como ator, mas também a entrar em contato com muito do que ele tem dentro de si: uma energia feminina, livre, expressiva e cada vez mais à vontade na própria pele.
“Na primeira leitura que fiz dos episódios, junto de um papo com os 4 roteiristas, me identifiquei com o Celso em muitos lugares. Ele tem o sonho de se tornar ator/cantor/bailarino, a arte pulsa em seu coração. Ele é coreógrafo da comissão de frente da escola de samba, e eu sempre fui apaixonado por dança. Isso me encantou muito”, conta.
Fora das telas, o artista também vem percorrendo esse caminho de autoconhecimento quanto à forma como se expressa através da moda, apostando cada vez mais em looks com que se identifica não apenas como um fashion statement, mas também como um estilo de vida e como uma forma de resistir e existir.
“Essa minha jornada de autoconhecimento vem acontecendo há alguns anos, mas eu tive um grande despertar durante a pandemia. Depois de meses catárticos em quarentena, evitando enfrentar certos sentimentos e questões transbordantes em mim, eu percebi o quanto de terreno interno eu tinha pra explorar. E de lá pra cá vim me metamorfoseando completamente. A moda caminhou lado a lado nesse processo. Foi uma linguagem fundamental para libertar e curar o meu feminino. Hoje em dia eu tenho um armário totalmente diferente de dois anos atrás. Me vestir virou diversão, virou um hobby fantástico. Fico sempre atrás das marcas que desconstroem a ideia de feminino e masculino, que conseguem enxergar além disso”, comenta o ator.
Embora sempre discreto na vida privada, por desejar que sua arte fique em primeiro plano, João faz questão de se colocar como um homem gay no audiovisual brasileiro, não apenas por vivermos em uma sociedade patriarcal, mas por entender o quanto essa representatividade é importante.
“Eu abri meus olhos para o quanto a moda é um canal ultra potente de expressão da alma. Me apaixonei. Hoje eu olho a moda como um símbolo de resistência, de empoderamento do ser, de manifestação do espírito e de libertação profunda de tudo que, como homem, o sistema sempre nos doutrinou a ser, pensar e agir”, finaliza.
E se não bastassem os lançamentos já mencionados, ele tem entre seus próximos lançamentos mais um trabalho por trás das câmeras: o filme “Depois do Universo”, da Netflix — trama protagonizada por Henry Zaga e Giulia Be, em que assina a colaboração de roteiro.
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